Sob o olhar de um aluno...

Primeira semana de aula no Instituto Federal, as expectativas são grandes e surgem as perguntas: Como será o campus? E os novos amigos? Os professores serão legais? As provas serão difíceis? Mas no terceiro dia de aula após a recepção vem a integração e, em meio às apresentações, expõem a novidade de que o método de ensino será bastante diferente do que conhecemos. A curiosidade toma conta da classe, mas  quando ouvimos a frase: “Não vai ter aulas convencionais” instantaneamente todos os alunos ficam inquietos.
No decorrer dos dias estamos empenhados na construção da nuvem de objetivos e a inquietação continua. Alguns alunos estão empolgados na construção da nuvem, outros um tanto exaltados: ”Como aprender sem aulas? Como será isso?” Eu era um desses alunos do último caso, perdida, não sabia aprender sem aulas convencionais, me sentia enganada, prejudicada, mas não queria desistir do curso.
Após um mês letivo a classe está dividida, uma parte dos alunos está feliz com o projeto, outra parte ainda sonha com a volta do sistema antigo e eu ainda era parte dela. Me associo a parte de alunos descontentes a fim de persuadir os professores, de que o sistema não era democrático, que teríamos o direito de escolher. Mas nosso professores, mestres e doutores, humildemente abraçam nossa causa de forma diferente, expondo que também estão tendo dificuldades de se adaptarem, mas cientes de que nós merecemos um sistema melhor, no qual sejamos autônomos, com maior nível de aprendizagem, em que possamos demonstrar nossas aptidões e crescer verdadeiramente como profissionais.
O discurso dos professores não me convencia, sempre fui “CDF” e agora estou tendo muitas dificuldades em me concentrar e progredir nas matérias. O semestre vai chegando à metade e ainda não estava convencida de que o Projeto de Inovação me favorecia. Então tive uma idéia! Eu sentia que os professores não viam que existiam alunos descontentes com o Projeto, pois nos momentos coletivos nem sempre os alunos falavam tudo o que estavam sentindo, mas na hora do intervalo entre amigos as opiniões eram bem diferentes. Então, minha ideia foi elaborar uma pesquisa de opinião aos alunos em relação ao Projeto, mas para que a professora idealizadora do projeto aprovasse a ação, essa pesquisa não poderia ter perguntas tendenciosas, e foi o que fiz. Com dificuldades consegui elaborá-la e a professora Paloma aprovou a publicação aos alunos dos 1o e 5o semestres. Nela havia perguntas como: Você conhece a origem do projeto de inovação? Já ouviu falar sobre aprendizagem através de projetos? Qual seu grau de satisfação como participante do projeto de inovação? Um parágrafos pedindo opiniões, etc. Publiquei para que fosse respondido de forma anônima e os participantes pudessem responder com total sinceridade.
Ao final da pesquisa obtivemos uma quantia significativa de respostas, o que futuramente se tornou mais uma ferramenta valiosa para os professores conhecerem as opiniões dos alunos. Para minha surpresa poucos sabiam a origem do projeto, poucos conheciam as escolas inovadoras, a maioria tinha um grau de satisfação regular (maior do que era o meu), e através das opiniões foi muito interessante saber que os alunos aprovaram a necessidade do projeto inovador, apesar das dificuldades que estavam passando. Isso me intrigava, pois percebi que não era possível voltar atrás. Então comecei a pesquisar sobre os métodos inovadores, sobre a Escola da Ponte e, por fim, li o artigo
“Aprendizes do futuro: As inovações começaram
de Léa Fagundes, que fez mudar minha visão de ensino e aprendizagem bruscamente.
Tudo fazia sentido agora! Meu orientador não estava me impondo nada, ele apenas era meu guia, estimulador, meu professor. Percebi que as formas de avaliação eram todas partes do meu ciclo de aprendizagem e o Projeto de Inovação foi inspirado em mentes brilhantes da história da educação, que serviram de inspiração para nossos idealizadores, visando o crescimento de seus alunos, futuros docentes, que poderão produzir frutos na história da educação através da semente lançada hoje.
Após essa quebra de paradigma em minha mente, candidatei-me a bolsista do projeto, a fim de aprender mais e de perto e, tanto poder contribuir com os professores, como poder ajudar meus amigos de classe a aderirem verdadeiramente à causa. Meu primeiro ato concreto como bolsista do projeto, mediante devida autorização, foi lançar outra pesquisa de opinião juntamente com a outra bolsista, Daniela. O resultado dessa pesquisa foi motivador:
  • As medidas tomadas para melhoria do projeto através de ideias dos alunos já implantadas foram aplaudidas;
  • Descobrimos que os alunos são solidários. Os que têm mais dificuldades pedem ajuda aos que têm mais facilidade com uma determinada matéria;
  • Os alunos estão recorrendo mais aos professores das disciplinas e ao orientador.
  • Muitos dos discentes reconheceram a necessidade de melhorar o senso de responsabilidade e outras virtudes necessárias ao bom estudante;
  • O grau de satisfação dos alunos em relação ao projeto melhorou consideravelmente.
Em minhas conclusões pessoais, penso que nós alunos estivemos acostumados pela escola convencional a receber o conhecimento "semi-pronto", o que nos deixou “preguiçosos”. Talvez essa seja nossa dificuldade inicial, aprender a aprender.
Um ponto negativo foi que muitas idéias de projetos de aprendizagem surgiram, mas poucos projetos foram postos em prática neste semestre. Os professores têm conversado com os alunos sobre colocarmos as idéias em prática desenvolvendo-as como pequenos projetos. Creio que esse seja o próximo passo. Estamos evoluindo e abraçando a causa, crentes de que futuramente colheremos frutos cada vez maiores.

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